Tratamento da deglutição: a atuação do fonoaudiólogo em diferentes países

Apresentação
Tenho o privilégio de ser amiga de Irene Marchesan desde 1974, quando ingressamos juntas na graduação da PUC de São Paulo. Desde então, tenho acompanhado sua bem sucedida trajetória pessoal e profissional e constatado a sua importante contribuição para a Fonoaudiologia no Brasil. As principais qualidades de Irene são a extrema generosidade, a enorme criatividade, a coragem de ousar e o profissionalismo ímpar. Qualidades que soube utilizar muito bem em sua luta para tornar a Fonoaudiologia mais científica e respeitada por outras áreas de conhecimento. Outra característica sua é a capacidade de enxergar muito além do nosso tempo, o que faz com que invente idéias e realize projetos que antecipam métodos de trabalho que, muitas vezes, são questionados pelos profissionais mais conservadores no início, mas que acabam sendo imitados e reconhecidos com o tempo.
Em 1977 nos formamos e, durante estes quase 30 anos, Irene tem trabalhado para que a Motricidade Orofacial (MO) tenha o devido reconhecimento no Brasil e em outros países da América Latina. Além de realizar o seu mestrado e doutorado na área de Motricidade Orofacial, Irene teve a ousadia de criar o primeiro curso de especialização no Brasil, em 1983, o CEFAC - Centro de Especialização em Fonoaudiologia Clínica. Organizou uma equipe de professores altamente qualificados que já formou mais de 6.000 fonoaudiólogos de diferentes partes do Brasil e da América Latina. Irene ministrou aulas e deu conferências na América Latina e na Europa e publicou vários artigos científicos nos Estados Unidos. Escreveu e organizou 15 livros. Participou de incontáveis congressos científicos sempre apresentando trabalhos que inovam a Motricidade Orofacial. Desenvolveu e orientou muitos trabalhos de pesquisas nesta área. Ministrou aulas na graduação de Fonoaudiologia da PUC de São Paulo e da USP e em cursos de especialização de todo o Brasil, para profissionais de diferentes áreas do conhecimento. Em junho de 2005, ganhou o prêmio "Richard Barrett" da International Association of Orofacial Myology por suas contribuições científicas na área de MO.
Além deste incansável trabalho de formação e pesquisa científica, Irene Marchesan também tem uma significativa atuação nas associações profissionais. Foi presidente do Conselho Regional de São Paulo, fez parte da diretoria da Associação Brasileira de Fonoaudiologia, durante seis anos, assim como da Sociedade Brasileira de Fonoaudiologia, por mais 6 anos. Atualmente é presidente do Comitê de Motricidade Orofacial da Sociedade Brasileira de Fonoaudiologia.
Hoje, muitos de seus ex-alunos são professores, pesquisadores e fonoaudiólogos que também fazem um trabalho de permanente atualização da Motricidade Orofacial, publicando artigos, livros, participando de congressos, ensinando e, principalmente, atuando de uma forma mais científica e eficiente. São estes profissionais que mostram que o trabalho de Irene teve um enorme sucesso em romper com uma visão técnica e conservadora da Fonoaudiologia.
O livro "Tratamento da Deglutição: a atuação do fonoaudiólogo em diferentes países" é mais uma das importantes contribuições de Irene Marchesan para o campo científico da Fonoaudiologia. O livro traz diferentes experiências clínicas, de renomados profissionais do Brasil, Chile, Argentina, Peru, Venezuela, Portugal e Estados Unidos, na área de avaliação e tratamento das alterações de deglutição. Os artigos trazem novas perspectivas para a atuação com a deglutição, a função mais trabalhada pelos fonoaudiólogos que são especialistas em Motricidade Orofacial, seja na clínica como nos hospitais, seja com recém-natos, crianças, adolescentes, adultos ou idosos. Busca apresentar diferentes técnicas assim como conhecimentos teóricos, não somente de fonoaudiólogos brasileiros, mas também, procurando conhecer a visão de profissionais da mesma área de outros países.
Sempre digo que Irene Marchesan teria tido sucesso em qualquer ramo de atividade pelo qual se interessasse. Não conheço ninguém que tenha sua energia, sua força, sua graça e, mais uma vez, sua generosidade. Sorte da Fonoaudiologia e da Motricidade Orofacial que Irene tenha optado por investir tantas décadas de sua vida nesta área de conhecimento. Sorte dos fonoaudiólogos, dentistas, professores e tantos outros profissionais, mas principalmente, dos indivíduos comuns que necessitam de tratamento fonoaudiológico. Irene é o melhor exemplo de que vale a pena ousar e enfrentar corajosamente os obstáculos para construir e consolidar um novo campo profissional, principalmente quando se sabe como é difícil um empreendimento como este ter tanto êxito, não apenas no Brasil, mas também na América Latina, nos Estados Unidos e na Europa.

Mirian Goldenberg - Doutora em antropologia social, Professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro e autora, entre outros, de "A arte de pesquisar", "De perto ninguém é normal" e "Toda mulher é meio Leila Diniz" (Editora Record).

Sumário

1. Quando, porque e quem inicia o trabalho com deglutição

Argentina

2. Experiência fonoaudiológica no atendimento odontopediátrico e ortodôndico
3. Avaliação e tratamento das alterações das fases preparatórias e oral da deglutição
4. Teoria do tempo mandibular da deglutição: conceito neuro-muscular-funcional

Brasil

5. A eletromiografia de superfície como ferramenta para o estudo da deglutição
6. O uso da zona motora da língua como facilitadora da deglutição
7. A documentação como ferramenta para o diagnóstico e controle da deglutição
8. Disfunções temporomandibulares e deglutição
9. Avaliação e tratamento das alterações da deglutição
10. Como avalio e trato as alterações da deglutição
11. Atuação fonoaudiológica nos distúrbios funcionais da deglutição
12. Equilíbrio funcional (homeostase) estomatognático-facial

Chile

13. A deglutição no paciente oncológico de cabeça e pescoço
14. Estratégias terapêuticas na disfunção evolutiva da deglutição
15. A amamentação, uma função pré-lingüística transcendente

Estados Unidos

16. Uma maneira de abordar as alterações miofuncionais orofaciais

Peru

17. Princípios de terapia para as alterações de deglutição
18. Disfagias em pacientes com alterações neurológicas

Portugal

19. Intervenção na deglutição atípica: uma reflexão pessoal

Venezuela

20. A avaliação e o tratamento da função de deglutição

Enfim...

21. Comparando as diferentes formas de atuação